sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Estado Islâmico proíbe árbitros em jogos de futebol na Síria, e atleta lesionado deve lesionar igualmente o seu adversário


As partidas de futebol na Síria não terão mais árbitros por determinação do Estado Islâmico. De acordo com o grupo extremista, os homens do apito "violam os mandamentos de Alá" para cumprir as determinações da Fifa. As informações são do jornal inglês Independent, que teve contato com representantes do Observatório dos Direitos Humanos da Síria, órgão baseado no Reino Unido.
De acordo com a interpretação que o Estado Islâmico tem do Alcorão, por exemplo, um atleta lesionado deve lesionar igualmente o seu adversário, e não apenas ser advertido com cartões amarelos e vermelhos. Apesar da proibição dos árbitros, o futebol segue liberado.

Quem violar a determinação pode ser preso, torturado e morto pelo Estado Islâmico. Nas áreas dominadas pelo grupo, prevalece o "sharia", interpretação da lei islâmica feita pelo EI.
A Síria tem uma seleção oficial reconhecida pela Fifa e disputa as Eliminatórias da Copa do Mundo no continente asiático.
Entre outras proibições estabelecidas pelo Estado Islâmico estão fumar, dançar, assistir a programas de televisão estrangeiros e ter acesso privado a internet — todas consideradas ações ocidentais.

ILHAS SALOMÃO, do Juliano Schmeling. A incrível história da seleção que, em Minas Gerais, se prepara para o Mundial de Futsal


O Supermercados BH/Minas já estava em quadra. No centro da Arena Minas Tênis Clube, o técnico Paulo César Cardoso conversava, orientava, explicava ao elenco o que gostaria de ver no treino. O silêncio tomava conta de quase todo o local. Apenas a voz do treinador podia ser escutada. De repente, um som, diferente de todos aqueles que existem no mundo futsal surgiu e ganhou força. Não eram comandos, incentivos, cobranças vindas da comissão técnica, chutes ou defesas dos goleiros. O som não vinha da quadra ou da arquibancada. Ele vinha do corredor que dá acesso a um dos vestiários da Arena. Em um ambiente pouco iluminado, um grupo de homens, de mãos dadas, fazia um círculo.
O som forte, que podia ser escutado com clareza no corredor e, depois, na casa do futsal minastenista, era uma canção. Uma canção de louvor e agradecimento. Essa é uma prática dos jogadores e da comissão técnica da equipe de futsal das Ilhas Salomão. “A seleção veio de uma igreja. Então, antes dos treinos, damos as mãos, fazemos um círculo e rezamos ou cantamos. Depois do treino, fazemos a mesma coisa. Quando amanhece o dia, também temos uma oração, temos cantos. No fim do dia, temos cantos também. A maioria dos jogadores é evangélica, mas também existem católicos no grupo. Isso é bem da cultura deles. São orações, cantos típicos do país”, contou Juliano Schmeling, de 37 anos, técnico da equipe.
A canção chama tanto a atenção de quem está no local quanto a história do grupo, que deixou um país pequeno, na Oceania, para treinar no Minas Tênis Clube. Mesmo sem tradição no futsal, a equipe se prepara em solo mineiro para a disputa da Copa do Mundo, organizada pela Fifa, e que será disputada em setembro, na Colômbia. A história do futsal das Ilhas Salomão envolve o trabalho missionário de um pastor australiano, jovens apaixonados pelo esporte, treinos em uma igreja e um técnico gaúcho, que já usou até um caminhão para dar carona aos jogadores da seleção.


Cercado pelo oceano

As Ilhas Salomão ficam na Oceania. Um país pequeno, com pouco mais de 500 mil habitantes e, como o próprio nome sugere, formado por várias ilhas. Dos mais variados tamanhos, centenas delas são banhadas pelo Oceano Pacífico. O idioma oficial é o pijin, mas o inglês também está presente. Mesmo assim, mais de 20 línguas podem ser escutadas. Na principal ilha do país, a população é de 150 mil habitantes. Nas menores e mais afastadas da região central, a população pode desenvolver sua própria língua. Nessas ilhas menores, há pouca infraestrutura e oportunidade, o que faz com que muitos jovens tentem a sorte em regiões mais populosas e desenvolvidas. E foi em Honiara, capital do país, que Juliano Schmeling encontrou jovens que cantam e fazem orações antes e depois dos treinos.
Trabalhar nas Ilhas Salomão não é o primeiro desafio que Juliano enfrentou no exterior. Natural do Rio Grande do Sul, o sonho de infância do técnico era ser jogador de futebol. Passou por vários clubes e praticou o esporte até os 19 anos, idade que marcou a entrada para a faculdade. Durante a graduação, começou a trabalhar com futsal, em Veranópolis, no interior do Rio Grande do Sul. Juliano concluiu a faculdade, fez pós-graduação e, após três anos no futsal, foi trabalhar com futebol de campo. A experiência nos gramados durou quatro anos. Depois, apareceu a primeira proposta profissional fora do Brasil.
Em 2011, surgiu o convite para trabalhar no futsal da Nova Zelândia. Fora a oportunidade de viver essa experiência, ainda poderia aprender o inglês, idioma que hoje domina. Arrumou as malas e partiu rumo ao futsal neozelandês. Dois anos depois, surgiu o primeiro trabalho com as Ilhas Salomão. “Isso foi em 2011, e eu fiquei dois anos. No segundo ano de Nova Zelândia, a Confederação da Oceania me fez uma proposta para ir para as Ilhas Salomão e preparar, ajudar a seleção deles para o Mundial, que seria na Tailândia, em 2012. Era um trabalho de duas semanas. Então, fiz parte da comissão técnica. Fizemos toda a preparação na Espanha e fomos para o Mundial na Tailândia”, revelou.
Após a experiência na Copa do Mundo de Futsal de 2012, Juliano foi parar na China. Convidado por um treinador com quem já tinha trabalhado no Brasil, passou duas temporadas no país asiático. Depois de deixar o futsal chinês, Juliano e a esposa foram para a Austrália. Lá, não ficou por muito tempo. Como técnico, ele disputava uma vaga no Mundial de 2016. “Recebi um convite da Fifa, por meio da Confederação da Oceania, para ser instrutor da Fifa. Então, viajo dando cursos em outros países. No ano passado, o patrocinador das Ilhas Salomão me ofereceu um trabalho no país. Quando fui para lá, a federação local entrou em contato comigo e me ofereceu a posição de treinador, para preparar a seleção para as eliminatórias do Mundial. Fui em agosto e comecei a trabalhar em setembro do ano passado. Fizemos um trabalho de três meses. Deu certo, ganhamos e nos classificamos. Na Oceania, apenas um país se classifica para o Mundial. Em março deste ano, comecei a fazer a com eles um trabalho visando o Mundial”, contou.


A superação de adversidades

“Hoje, moro nas Ilhas Salomão. Fica perto da Austrália, são três horas de voo, mas moro lá, porque desenvolvo também um trabalho de futebol de campo, em um clube profissional de futebol. Trabalho com o futebol de campo pela tarde e com a seleção de futsal pela manhã”, contou Juliano.

A jornada do treinador brasileiro é dupla. A dos jogadores, também. “Muitos deles jogam futebol, porque o futebol é o primeiro esporte deles. Gostam do futsal, conhecem, mas não há competição. Eles costumam jogar o futsal mais na rua. O futebol, por outro lado, tem a liga nacional. Os clubes pagam, têm atletas que só vivem do futebol. Temos atletas aqui que jogam o futebol. É por isso que faço o treino de manhã, porque, à tarde, eles vão para o treino de futebol”, complementou o treinador.

Apesar da vaga conquistada para o Mundial, que será realizado em setembro, na Colômbia, a realidade é complicada. Comparado ao Brasil, há grande diferença no nível técnico. Se olharmos para Austrália, China e Nova Zelândia, países onde Juliano trabalhou, os recursos e investimentos no esporte das Ilhas Salomão é menor. Mas o futebol e o futsal são paixões nacionais. E, como se fosse uma história de cinema, as dificuldades são superadas. Hoje, já existem jogadores profissionais nas Ilhas Salomão, mas eles estão no futebol de campo. Mesmo assim, ainda treinam futsal com Juliano Schmeling. Existem, porém, aqueles que não conseguiram atingir o profissionalismo. Alguns dos rostos que serão vistos no Copa do Mundo de Futsal só têm uma refeição no dia, mas, mesmo assim, mostram dedicação e empenho quando entram em quadra.

A paixão pelo esporte é visível nas Ilhas Salomão. Qualquer espaço pode se transformar em um campo de futebol. Não importa se esse campo será grande ou pequeno. Não importa se o campo será próximo das casas, em uma área central ou em uma região cercada por árvores. Para eles, a falta de arquibancada nunca foi um problema. Jogam descalços, na terra, nas ruas, até mesmo com uma bola furada. A falta de traves é rapidamente solucionada com pedaços de madeira, pedras, chinelos ou galhos. Os jogadores são formados, inicialmente, nas ruas. “Não tem nenhuma facilidade, não tem nenhuma infraestrutura. Fazemos nosso treino no concreto. Não há ginásios para treino. O único ginásio que existe é para basquete, mas sem condições de piso, de treino. Não tem competição, não tem liga nacional, mas é uma coisa que a federação quer fazer. Os caras se criam na rua, sem calçado. São apaixonados por futebol, por futsal, pelos brasileiros. Eles jogam o dia todo. Então, a parte técnica individual deles é muito desenvolvida na rua. Eles fazem por conta própria o trabalho de desenvolvimento técnico. Agora é que começa um programa de categoria de base, com escolas que promovem torneios de futsal. A federação quer desenvolver, mas ainda não há o planejamento”, contou o técnico.


Futsal: um futebol no salão... da igreja

No pequeno país da Oceania, há uma forte ligação entre futsal e igreja. Foi um pastor da Austrália, em 2000, o responsável por levar o esporte e apresentá-lo aos jovens das Ilhas Salomão. Os garotos que frequentavam a igreja passaram a conhecer regras, as novas formas de jogo. Um trabalho, mesmo que tímido e com pouco recursos, começou a ser feito. Mas algo que não pode ser esquecido é que a superação faz parte do esporte das Ilhas Salomão. Em 2008, ano de Copa do Mundo de Futsal, disputada no Brasil, as Ilhas Salomão participaram das eliminatórias. A seleção era muito jovem, e o desafio, bem grande. Será que garotos de 15 anos conseguiriam participar de uma competição importante? Será que suportariam a pressão? Conseguiriam uma vaga para o Mundial? Sim, eles conseguiram. A seleção sem apoio, de um país sem tradição no esporte, com pouco investimento e formada por jovens estava entre as maiores equipes do planeta. Sofreram goleadas, mas sabiam que tinham dado um passo importante. “Para eles, foi um salto, porque sair daquela realidade para o Mundial era uma coisa incrível. Eles levaram 21 gols do Brasil, 32 da Rússia, perderam todas as quatro partidas que disputaram, mas foi a partir dali que começaram a entender o que é o futsal”, lembrou Juliano.

Depois de quatro anos, alguns jogadores também disputaram a Copa do Mundo de Futsal, em 2012, na Tailândia. Agora, existem atletas que estarão no terceiro mundial seguido. O caminho para chegar até a competição não foi fácil, e as dificuldades e problemas continuam presentes. Mas a relação com a religião ainda faz a diferença. Juliano comanda os treinos em um salão de uma igreja. O ambiente foi transformado em quadra, traves foram levadas para o local. “Foi o único lugar que eu achei para treinar. É um salão grande, que dá para fazer de quadra de futsal. Levo as traves, fazemos as linhas e treinamos naquela igreja”, disse Juliano.

O treinador lembra de alguns fatos que, para muitos, são impensáveis quando se fala de esporte de alto rendimento. Alguns atletas, às vezes, têm apenas uma refeição por dia. Às vezes, tenho de dar carona para a equipe em um pequeno caminhão. “O dia a dia deles tem muita coisa diferente. E podemos falar disso em todos os sentidos. A gente dá o café da manhã, o que, para alguns, é a única refeição. Lá tem muitas frutas. Se não tem carne, eles vão no mar e pescam. O arroz é barato, comem muita mandioca e batata. Mesmo que alguns só tenham uma refeição no dia, se dedicam muito. Mas o dia a dia é curioso. Minha realidade era pegar um caminhão, pela manhã, e dirigir pela avenida principal. No caminho, pegava os atletas e os levava à igreja. Fazia isso para que eles treinassem”.

Preparação no Minas

A Copa do Mundo de Futsal se aproxima, e o Minas foi o local escolhido pelas Ilhas Salomão para os últimos treinos antes da competição. A estrutura do Clube deixou os atletas felizes e impressionados. Mesmo cientes da dificuldade, o desejo é poder jogar bem no Mundial. “Estou muito feliz de ter trazido eles para o Minas, para essa estrutura. É outro nível para eles, outro mundo, outra realidade. Hoje, eles podem acompanhar a rotina da equipe profissional. Tem sido fantástico, tem sido muito bom para eles. Para o Mundial, sabemos de nossas dificuldades, mas vamos tentar mostrar que somos mais competitivos. No último Mundial, tivemos uma vitória muito importante para a nação, que foi o jogo contra a Guatemala. Estamos em uma fase de transição, de crescimento, mas sabemos que vamos enfrentar dificuldades diante de Costa Rica, Argentina e Cazaquistão. Vão ser três pedreiras, mas queremos jogar bem”, concluiu Juliano.

Fonte: http://minastenisclube.com.br/

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