sexta-feira, 8 de julho de 2011

Feitos para durar

Os intocáveis do futebol mundial andam ressabiados. O rebaixamento do River Plate no Campeonato Argentino teve um efeito bombástico entre os clubes que nunca caíram para a segunda divisão, provando que, por mais gloriosa que seja a história de um time, o pior sempre pode acontecer.
FIFA.com preparou um levantamento dos gigantes das primeiras divisões nacionais cuja única preocupação costuma ser a briga pelo topo da tabela — até o dia em que a casa cai.

Comecemos o nosso giro pela atual campeã do mundo e da Europa. Desde a criação da prestigiada liga espanhola, em 1928, somente Athlético de BilbaoBarcelona e Real Madridnunca deixaram a elite. O Bilbao preserva a tradição de só contratar jogadores bascos e detém o recorde de vitórias na Copa do Rei, com 24. Já o Barcelona, tradicionalmente identificado a um futebol mais vistoso, e o Real Madrid, vencedor das cinco primeiras edições da antiga Copa dos Campeões, registraram as suas piores campanhas, um 11º lugar, em 1947/48. Talvez não seja por acaso que os três clubes, assim como o Osasuna, continuem sendo agremiações esportivas de propriedade de sócios, e não empresas pertencentes a acionistas.
Sessenta times já disputaram a primeira divisão da Itália, mas a Internazionale é o único que se manteve no mais alto nível durante 80 temporadas, à frente de Juventus e Roma. Onerazzurro milanês foi fundado no dia 9 de março de 1908 por 43 dissidentes do Milan que não concordavam com a política de impedir que estrangeiros jogassem na equipe. Daí vem o nomeInternazionale, justificado mais uma vez na campanha do título nacional de 2009/10, que foi vencido sem nenhum atleta italiano no plantel.
Já na Inglaterra, nenhum clube pode se orgulhar de ter permanecido tanto tempo na elite — talvez pelo fato de o primeiro campeonato ter começado em 8 de setembro de 1888 com somente 12 times. A Premier League tal como a conhecemos hoje foi criada em 20 de fevereiro de 1992. De lá para cá, 45 clubes disputaram a competição, mas somente Arsenal, Aston Villa, Chelsea, EvertonLiverpoolManchester United e Tottenham resistiram às agruras do descenso. O destaque vai para o Manchester United, 12 vezes campeão em menos de 20 anos sob o comando do emblemático Alex Ferguson.
O Campeonato Alemão remonta a 1903, mas a era profissional, com chave única, só começou em agosto de 1963. Os 16 clubes que participaram da primeira edição da Bundesliga eram todos oriundos das cinco Oberligen, divisões de elite da Alemanha Ocidental de 1947 a 1963. As equipes admitidas na nova liga apresentavam os melhores resultados esportivos da época e, ao mesmo tempo, desfrutavam de condições financeiras e infraestrutura ideais. O Bayern de Munique é a referência máxima com 22 campeonatos nacionais em 48 temporadas. Apesar da galeria excepcional e de jamais ter sido rebaixado, o time bávaro não é o mais antigo da Bundesliga. Ele entrou na competição em 1965/66, enquanto o Hamburgo já jogava há dois anos.
Na França é um clube praticamente desconhecido que ostenta o recorde de participações na elite nacional, embora o seu último título tenha sido conquistado em 1938. Com 63 temporadas disputadas, o Sochaux supera o Olympique de Marselha (61), o Bordeaux e o Saint-Étienne (58). Desde a criação da Ligue 1, em 2002, dez clubes permaneceram no andar de cima, sendo que o Lyon é o maior campeão com sete troféus seguidos.
Em Portugal, Benfica (32 vezes vencedor e 25 vice), Porto (25 e 25) e Sporting (18 e 19) exercem uma hegemonia quase completa desde o campeonato inaugural em 1934/35. A taça escapou do trio em apenas duas ocasiões em 77 anos, ficando com o Belenenses em 1946 e com o Boavista em 2001. O cenário se repete no Campeonato Holandês, amplamente dominado por Ajax (30 títulos), PSV (21) e Feyenoord (14). Nos últimos 30 anos, os três times só dividiram os louros com o AZ Alkmaar (1981 e 2009) e com o Twente (2010). Na Escócia, o seleto clube dos campeões nacionais é ainda mais fechado. Os protagonistas do famoso "Old Firm", como é conhecido o maior clássico de Glasgow, venceram entre si todas as edições da Premier League escocesa, com 42 títulos para o Celtic e 54 para o Rangers.
Já na Grécia o campeonato é mais democrático. Desde a temporada 1959/60, quando a competição passou a contar com chave única, Olympiakos (23 títulos), Panathinaikos (17),AEK Atenas (9) e PAOK (2) passaram 52 anos na primeira divisão sem nunca terem caído. Na liga da Turquia, criada em 1959, segue valendo o recado dado em um faixa que se vê com frequência nos estádios das maiores cidades do país: "quem não é de Istambul não ganha".Fenerbahçe (18 títulos), Galatasaray (17) e Besiktas (13) imperam, mas Trabzonspor (1984) e Bursaspor (2010) são as exceções que confirmam a regra.
Já o Uruguai é uma espécie de Escócia da América do Sul. Peñarol (37 títulos) e Nacional (32) continuam dominando o campeonato local, tendo deixado a taça escapar apenas dez vezes em 79 edições. Na Argentina, porém, pela primeira vez nos seus 110 anos de história e apenas três depois de vencer o último dos seus 33 títulos de campeão Nacional, o River Plate deixará o caminho livre para Independiente e Boca Juniors. O arquirrival portenho está na divisão de elite desde 1913 sem interrupção e agora ficará órfão dos Millonnarios, enquanto o Estádio Monumental de Núñez, que recebeu a final da Copa do Mundo da FIFA 1978, terá de esperar para voltar a receber o clássico.
O Brasil, por sua vez, continua vivendo ao ritmo dos grandes desde que os títulos nacionais começaram a ser contabilizados, em 1959 (como Taça Brasil, Torneio Roberto Gomes Pedrosa ou Campeonato Brasileiro). Clubes como Palmeiras, Corinthians, Fluminense, Grêmio e Botafogo seguem alegrando o torcedor e angariando admiradores mundo afora, mas todos já chegaram ao fundo do poço antes de voltar à elite, cruel destino que apenas Flamengo,Cruzeiro, Santos, São Paulo Internacional ainda não enfrentaram na elite nacional.
Longe da Europa e da América do Sul, diversos times ainda desfrutam do privilégio de nunca terem saído da elite. Mas para todo clube que não está acostumado a lutar para sobreviver, o rebaixamento pode ser tão cruel quanto surpreendente. Dos 14 que caíram nos cinco principais campeonatos europeus na última temporada, por exemplo, oito abrigam um salão nobre respeitável. É o caso principalmente do Monaco, que chegou a disputar a final da Liga dos Campeões da UEFA em 2004. Mesmo sem saberem, os gigantes às vezes têm pés de barro.

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