terça-feira, 5 de junho de 2018

Veranópolis: Confira a matéria do Jornal Pioneiro sobre Tite no Veranópolis


Renan Silveira - renan.silveira@pioneiro.com
Quem passa por Veranópolis – a 82km de Caxias e 170km de Porto Alegre – logo se depara com o Estádio Antônio David Farina, se trafegar pela BR-470. Ali, reside o Veranópolis Esporte Clube, o VEC. Modesto, mas competitivo. Jovem, mas com boas histórias. A identidade do Pentacolor da Serra Gaúcha se confunde com a de Adenor Leonardo Bachi, o Tite. 


Hoje técnico da Seleção Brasileira na preparação para a principal competição do futebol mundial, Tite literalmente morou no VEC. Claro que em 1992, ano da fundação do clube, ainda não havia a atual casa. Era no chamado Estádio da Palugana que Adenor dormia, comia, rezava e, principalmente, trabalhava.
E como trabalhava. Aos 32 anos, era treinador e preparador físico do clube. Autodidata, comandava até treinamentos específicos para goleiro. 

– Utilizamos muito do conhecimento e da experiência dele para nos tornar fortes, como somos até hoje. A gente já via que ele era um profissional diferente. Os detalhes que ele tinha no trabalho eram totalmente diferentes do que víamos em outros técnicos. Sempre procurou se aperfeiçoar, estudar e hoje está onde merece – lembra Dirceu Salla, dirigente do VEC na década de 1990 e até hoje colaborador do clube. 


Aos desavisados, Tite conquistou seu primeiro título como técnico no Veranópolis. Era também um momento inédito para o clube, que dava seus primeiros passos. Em 1993, na Divisão de Acesso, ambos debutaram na arte de levantar troféus. Coincidência, ou não, o Veranópolis subiu para a Série A naquela temporada e não deixou mais a elite do Gauchão. 

– A minha formação precisou disso. Errei muito, fui chamado de burro para caramba. Tudo me ajudou a me preparar para estar aqui – contou o treinador, no fim do ano passado, quando já havia classificado o Brasil na Copa da Rússia. 

Talvez a maior dificuldade durante a competição estadual foi resolvida pelos próprios jogadores. Sem os resultados esperados, chegou o momento de sair. Era assim que Tite pensava. 

– O Tite não queria treinar mais. Tínhamos uma ótima equipe, mas não vínhamos ganhando. Ele chegou para um dos diretores e pediu para sair. O Lucianinho, o Eduardo e outros jogadores foram falar com um antigo diretor, o seu Edgar (Chiaradia), e pediram para ele não sair. Depois disso, viramos a situação, a equipe encorpou e conseguimos subir – relembra Jorjão, atacante e artilheiro da Divisão de Acesso de 1993. 

Unanimidade desde os tempos de Palugana, o treinador é sempre lembrado e motivo para longas conversas cada vez que o time campeão de 1993 se reencontra para, obviamente, jogar futebol.

– Ela (a braçadeira) traz consigo uma série de responsabilidades. Esse é um dos motivos pelo qual coloco diferentes capitães. Divido responsabilidades e o sentimento de equipe fica aflorado. O desempenho da equipe ou alguém tomar iniciativa para reverter uma situação difícil passa por cada um deles.
 

A frase é uma das explicações de Tite para justificar o revezamento de capitães na Seleção.
Muito antes de Gabriel Jesus, Neymar, Thiago Silva, Marcelo e Daniel Alves, essa divisão de responsabilidade se fazia presente na Palugana, há 25 anos. Ora o lateral-esquerdo Luciano Maia, ora o zagueiro Gilmar, ora o meia Joel Marcos. Todos tiveram seus momentos de utilizar a braçadeira. O mais marcante, porém, foi o zagueiro Eduardo. O camisa 4 foi quem levantou a taça de campeão da Divisão de Acesso de 1993. 

– A experiência que levo para a minha família e para o trabalho que eu tenho é sempre me dedicar. Seja jogando futebol ou trabalhando em uma empresa, faça sempre o melhor, se empenhe. O Tite foi esse cara positivo e que nunca se esqueceu de nós – conta o defensor, hoje com 51 anos. 

Além de comandado por Tite, Eduardo também atuou ao lado do atual técnico da Seleção nos tempos de Esportivo, em 1987. Naquele momento, o então meia estava em uma fase de preparação para ingressar na carreira de treinador. 

– Quando conheci o Tite, ele ainda estava tentando jogar futebol. Mas tinha os problemas no joelho. Hoje, a transformação e o conhecimento que ele tem são fruto de tudo o que ele estudou. O que ele adquiriu, é graças ao empenho que sempre teve. No meu trabalho, tinha uma coisa que aprendi com ele: aperfeiçoar as minhas falhas. Eu tinha dificuldades no cabeceio e ele me orientava a me dedicar mais e me mostrava o que eu precisava fazer – relembra. 


Ousadia e alegria na Palugana

As palavras da moda praticadas pelo camisa 10 Neymar também eram características marcantes das palestras de Tite no vestiário da Palugana. Claro que não nesse linguajar.

– Aprendemos muito com ele. Principalmente a respeitar as pessoas e ter humildade. Ele sempre frisou isso, e dizia que temos de jogar sem medo de ser feliz. Levo isso para a vida também – recorda Bilo, camisa 10 daquele time.

Dentre tantos preceitos saídos do eloquente e “letrado” treinador: lealdade e competitividade. A cada pré-jogo, com um time inteiro prestando a atenção em cada detalhe passado pelo treinador, a certeza de que Tite estava no caminho certo. 

Era possível um técnico do VEC chegar tão longe? Aquele grupo de 93 garante que sim. 

– Desde aquela época já se via algo diferente nele como técnico. A relação com o trabalho, a harmonia do grupo, a convivência com os atletas. Isso se comprovou com o tempo – banca Lucianinho, um dos líderes daquela equipe e que hoje trabalha como auxiliar técnico de Gilmar Dal Pozzo.

Gestor de grupo, perfeccionista e agora vencedor. Mal sabia Tite que o título da Divisão de Acesso de 1993 seria apenas o primeiro de tantos outros.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado por participar.

Adenor Bachi, o Tite, voltou ao ADF